quarta-feira, 28 de maio de 2014

Análise do poema " Não sei quantas almas tenho” de Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que eu sou e vejo.
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.


Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu"?
Deus sabe, porque o escreveu
.

  •      No poema “Não sei quantas almas tenho” o poeta reflecte acerca de si próprio, tentando responder à questão “Quem sou eu?”.
  • —      Na primeira estrofe há uma alternância temporal presente/passado aliada ao advérbio de modo “continuamente”, que expressa a constante fragmentação sentida pelo sujeito poético, ontem, hoje, sempre.
  • —      O poeta passa da primeira para a terceira pessoa nos três últimos versos da primeira estrofe, quando usa a generalização “todo(s), toda(s), o(s), a(s), aquele(s), aquela(s)”.
  • —      No sexto verso denuncia a angústia que a instabilidade lhe provoca, ou seja, o poeta que é constituído apenas por alma, vive na ânsia de se encontrar; por isso, vive sem “calma”, sem repouso.
  • —      Nas duas primeiras estrofes, salienta a fragmentação do sujeito poético “Não sei quantas almas tenho. /Cada momento mudei. /Continuamente me estranho.” e “Torno-me eles e não eu.”;
  • —     O seu desconhecimento em relação a si próprio “Cada momento mudei. / Continuamente me estranho. / Nunca me vi nem achei.”;
O sentimento de despersonalização “Torno-me eles e não eu. / Cada meu sonho ou desejo/ é do que nasce e não meu.”;
 O seu papel de “espectador” de si “Sou minha própria paisagem, / assisto à minha passagem”;

• A sua constante inadaptação “Diverso, móbil e só, / não sei sentir-me onde estou.”.
Na segunda estrofe, o poeta volta a centrar-se em si próprio utilizando uma tripla adjectivação para se autocaracterizar “Diverso, móbil e só”. Aponta, uma vez mais, para a multiplicidade do sujeito poético “Diverso”, definido como um ser volúvel e inconstante “móbil” e salientando a sua solidão “”.
• A locução “Por isso” assume o carácter explicativo/conclusivo em relação às duas estrofes anteriores. O sujeito poético, tendo tomado consciência da divisão do seu “eu”, do seu auto desconhecimento, sente-se um estranho (“alheio”) em relação a si próprio.

• Olha para as “páginas” da sua vida como quem lê um livro que outrem escreveu, chegando a pôr em dúvida os seus próprios sentimentos – “o que julguei que senti”.
• O sujeito poético sinaliza versos em que se define como um ser sem passado nem futuro “o que segue não prevendo, /o que passou a esquecer.
Os dois últimos versos são um desfecho lógico para o poema sendo “alheio” à forma como a sua vida se desenrola, não passando de um “espectador” que assiste à sua “passagem”, o sujeito poético não poderia tão pouco redigir notas à margem no “livro” da sua vida. O último verso encerra a resposta à interrogação retórica do verso anterior: alguém superior ao próprio sujeito comanda a sua vida.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Ricardo Reis

  • Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.

  • A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.

Alberto Caeiro

Caeiro apresenta-se com uma postura oposta à de Pessoa no que diz respeito ao modo de encarar e viver a vida. Este heterónimo não vive pensando, pelo contrário, aceita e adora o mundo tal como é através do que este lhe transmite pelos sentidos. Para Caeiro o mundo não foi feito para ser compreendido e os seus pensamentos não passam de sensações o que faz dele um ser feliz. Caeiro considera ainda que cada momento é único e recusa, assim, as noções de passado e de futuro.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Álvaro Campos

Álvaro de Campos é um dos heterônimos mais conhecidos, verdadeiro alter ego do escritor português Fernando Pessoa, que fez uma biografia para cada uma das suas personalidades literárias, a que chamou heterônimos. Como alter ego de Pessoa, Álvaro de Campos sucedeu a Alexander Search, um heterônimo que surgiu ainda na África do Sul, onde Pessoa passou a infância e adolescência. 


Fernando Pessoa ortónimo - características

Fernando Pessoa ortónimo: Eu não evoluo, viajo

Características temáticas:

  • Oposição sinceridade/fingimento, sentir/pensar, consciência/inconsciência; solidão interior; angústia existencial; dor de viver e dor de pensar; tentativa de superação através de evocação da infância; refúgio no sonho; intelectualização da emoção; intuição de um destino colectivo e épico para o seu País.


Características de linguagem e estilo: 

  • Grande sensibilidade musical (aliterações, ritmo, verso geralmente curto, predomínio da quadra e da quintilha); adjectivação expressiva; pontuação emotiva; uso frequente de frases nominais; comparações, metáforas originais, antíteses; reaproveitamento de símbolos tradicionais (água, rio, mar,...); linguagem sóbria e límpida.


Alberto Caeiro: Eu não penso, sinto

Características temáticas: 

  • O “Mestre” dos outros; o poeta dos sentidos – Sensacionismo (predomínio das sensações por oposição ao pensamento; poesia do “olhar”; poesia das sensações tais como são; interpretação do mundo a partir dos sentidos); relação de harmonia com a natureza (integração e comunhão com a Natureza; atenção à “eterna novidade do mundo”; deambulismo bucólico; recusa do pensamento; aceitação do mundo, da vida, da morte; poesia do presente e imediato; panteísmo naturalista). Mas também o paradoxo: contradição entre a “teoria” e a “prática”


Características de linguagem e estilo: 

  • Verso livre, métrica e estrofes irregulares; pobreza lexical, linguagem simples; adjectivação objectiva; frases simples e predomínio do presente do indicativo (e uso do infinito ou do gerúndio); predomínio da coordenação e do polissíndeto; nomes concretos e artigos definidos. Mas também o paradoxo: comparações e metáforas; discurso argumentativo, com causais e adversativas


Ricardo Reis: Eu domino-me e abdico

Características temáticas: 

  • Paganismo (crença nos deuses e na civilização grega); fatalismo (passividade, indiferença, ausência de compromisso com o Mundo; consciência da precariedade da vida; medo da morte); Epicurismo (busca da felicidade relativa, moderação nos prazeres, fuga à dor; “carpe diem” - vive o momento); Estoicismo (aceitação das leis do destino - a passagem do tempo e a morte - , autodisciplina face às paixões e à dor; intelectualização das emoções); culto do Belo, como forma de superar a efemeridade dos bens e a miséria da vida.



Características de linguagem e estilo: 

  • Classicismo (uso da Ode, de ideias e linguagem de inspiração clássica; predomínio da subordinação; uso frequente do gerúndio, do imperativo ou do conjuntivo; metáforas, comparações, ...; estilo construído com muito rigor; discurso moralista).


Álvaro de Campos: Eu sinto tudo e canso-me

Características temáticas: 

  • Futurismo (2ª fase): exaltação da civilização industrial e da técnica; da força, da violência, do excesso; ruptura com a lírica tradicional; atitude escandalosa. Sensacionismo: vivência excessiva das sensações, “Sentir tudo de todas as maneiras”, vontade doentia de fusão com o mundo tecnológico. Abulia (3ª fase): cansaço, tédio, pessimismo, solidão; angústia existencial e dor de pensar; fragmentação do “eu”; as saudades da infância. (o “reencontro” com o F. Pessoa Ortónimo)


Características de linguagem e estilo:

  • Verso livre, por vezes, muito longo; onomatopeias, aliterações; grafismos expressivos; mistura de níveis de língua; estrangeirismos e neologismos; enumerações excessivas, exclamações, interjeições, apóstrofes, pontuação emotiva; metáforas ousadas, antíteses, personificações, hipérboles, anáforas,...; desvios às regras sintácticas.

A génese da heteronímia: A carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro

  ''Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas cousas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as cousas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem-me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar. (...)
     Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterónimo, ou, antes, o meu primeiro conhecido inexistente – um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade. (...)
   Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas cousas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis.)''

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Fernando Pessoa - Vida e Obra


Fernando António Nogueira Pessoa foi um dos mais importantes escritores e poetas do modernismo em Portugal. Nasceu em 13 de Junho de 1888 na cidade de Lisboa (Portugal) e morreu, na mesma cidade, em 30 de Novembro de 1935. 



Biografia 

Fernando Pessoa foi morar, ainda na infância, na cidade de Durban (África do Sul), onde seu pai tornou-se cônsul. Neste país teve contato com a língua e literatura inglesa. 
Adulto, Fernando Pessoa trabalhou como tradutor técnico, publicando seus primeiro poemas em inglês. 
Em 1905, retornou sozinho para Lisboa e, no ano seguinte, matriculou-se no Curso Superior de Letras. Porém, abandou o curso um ano depois. 
Pessoa passou a ter contato mais efetivo com a literatura portuguesa, principalmente Padre Antônio Vieira e Cesário Verde. Foi também influenciado pelos estudos filosóficos de Nietzsche e Schopenhauer. Recebeu também influências do simbolismo francês.
Em 1912, começou suas atividade como ensaísta e crítico literário, na revista Águia. 

A saúde do poeta português começou a apresentar complicações em 1935. Neste ano foi hospitalizado com cólica hepática, provavelmente causada pelo consumo excessivo de bebida alcoólica. Sua morte prematura, aos 47 anos, provavelmente aconteceu em função destes problemas, pois apresentou cirrose hepática.


Obras de Fernando Pessoa

  • Do Livro do Desassossego
  • Ficções do interlúdio: para além do outro oceano
  • Na Floresta do Alheamento
  • O Banqueiro Anarquista
  • O Marinheiro
  • Por ele mesmo

terça-feira, 6 de maio de 2014

Artes Plásticas:

Amadeo de Souza Cardoso, Almada

Amadeo de Souza Cardoso, trou de la Serrure
Parto da Viola Bon Ménage, 1916
Amadeo de Souza Cardoso reflete na sua obra influências da arte estrangeira, devido aos longos períodos que passou fora de Portugal, o que lhe permitiu o contrato com o Pablo Picasso, Georges Braque e Robert Delaunay, entre outros. O Parto da Viola foi um dos quadros que lhe valeu a celebridade. Observamos nesta tela uma grande intensidade cromática e inúmeros objetos sobrepostos que sugerem a iconografia tradicional (potes e bilhas de barro, uma figura feminina- boneca popular) mas, simultaneamente, letras soltas e figuras geométricas. O objeto central da obra não é uma viola, como sugere o título, mas sim um violino, representado numa metade, a sugerir um perfil. É uma obra muito rica pela heterogeneidade dos elementos que a compõem, pela sobreposição e geometrização, assim como pelos jogos de luz e cor, sendo exemplo do Modernismo em Portugal.
in Interações, Português, 12º ano, Azóia F. e Santos F., Texto Editores






Módulo 9: Textos Líricos

Fernando Pessoa e Heterónimos

MODERNISMOS




No início do Séc. XX, havia um sentimento geral de que não era mais possível renovar a arte tradicional. As escolas literárias repetiam suas fórmulas. A superficialidade convivia com a crença de que a evolução tudo comandava e pouco cabia ao homem nesse processo.
No entanto, um movimento forte e amplo - o Modernismo - viria dar fim a este marasmo e implantar o inconformismo.
Modernismo, não foi apenas produto de uma evolução estética: ele decorreu de todo um estado de espírito formado pela cultura da época e que repercutiria em todas as artes, integrando literatura, pintura, música arquitetura, cinema, etc. A primeira Guerra Mundial foi o grande divisor das águas.
Nesse contexto surgiram as vanguardas européias, que antecederam e originaram o Modernismo literário.
Vanguarda vem do francês e significa extremidade dianteira dos exércitos em luta. E a literatura de vanguarda foi realmente combativa, polêmica, desbravadora e irreverente. Os vanguardistas da época valiam-se do deboche, da ironia e da luta verbal com o objetivo de substituir a arte passadista pela arte moderna.


As principais vanguardas européias foram:
-Cubismo;
-Dadaísmo;
-Futurismo;
-Surrealismo


Todas essas vanguardas tiveram um caráter agressivo, experimental, demolidor e inovador. Combatiam o racionalismo e o objetivismo das teorias científicas do Realismo/Naturalismo/Parnasianismo e pregavam o irracionalismo. Com isso, buscavam uma compressão mais subjetiva do homem, voltada mais para seu interior que para seu exterior.
De 1940 a nossos dias, o Modernismo português desenvolveu várias tendências; Neo- Realismo. Ecletismo, Humanismo dramático, Realismo contraditório e Experimentalismo polivalente.


Características:
• Atitude irreverente em relação aos padrões estabelecidos;
• Reação contra o passado, o clássico e o estático;
• Temática mais particular, individual e não tanto universal e genérica;
• Preferência pelo dinamismo e velocidade vitais;
• Busca do imprevisível e insólito
• Abstenção do sentimentalismo fácil e falso;
• Comunicação direta das idéias: linguagem cotidiana.
• Esforço de originalidade e autenticidade;
• Interesse pela vida interior (estados de alma, espírito)
• Aparente hermetismo, expressão indireta pela sugestão e associação verbal em vez de absoluta clareza.
• Valorização do prosaico e bom humor;
• Liberdade forma: verso livre, ritmo livre, sem rima, sem estrofação preestabelecida.

OS HETERONIMOS DE FERNANDO PESSOA

Sua capacidade de deixa-se possuir por outros seres, que como ele são poetas, e de assim criar os outros eus, os heterônimos, tem sido tema de numeráveis estudos debates e controvérsias. Destruiu as certezas inquestionáveis e quebrou o mito da personalidade como algo inteiro, algo assim mesmo.


Os heterônimos, portanto, não são máscaras literárias, não se confundem com pseudônimos. Pessoa não inventou personagem-poetas, mais criou obras de poetas, e, em função delas, as biografias de Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro, seus principais heterônimos.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Episódio do Jantar no Hotel Central

  Este episódio surge no capítulo VI do romance e integra a chamada crónica de costumes. Estamos perante um acontecimento eminentemente mundano, integrado na crónica de costumes (recordar o subtítulo «Episódios da Vida Romântica»), cujo objectivo central é homenagear o banqueiro Cohen, de cuja mulher Ega (o promotor da homenagem) é amante.


Objetivos

  • Homenagear o banqueiro Jacob Cohen, uma iniciativa de João da Ega («... o Ega, alargando pouco a pouco a ideia, convertera-o agora numa festa de cerimónia em honra do Cohen...»).
  • Retratar a sociedade lisboeta.
  • Proporcionar a Carlos da Maia o primeiro contacto com o meio social lisboeta.
  • Apresentar a visão crítica de alguns problemas.
  • A nível da ação central: proporcionar a Carlos o primeiro encontro com Maria Eduarda.

Intervenientes
  • João da Ega : Promotor do jantar, uma homenagem ao banqueiro Jacob Cohen, marido da «divina Raquel», com quem mantém uma relação adúltera, João da Ega defende o Realismo / Naturalismo.
  •  Jacob Cohen : É o homenageado durante o jantar, o marido da «divina Raquel», diretor do Banco Nacional, por isso o representante das Finanças na obra.
  • Tomás de Alencar : Representante do Ultrarromantismo, é confrontado com os princípios naturalistas / realistas defendidos por Ega.
  • Dâmaso Salcede : É o tipo do novo rico burguês e a súmula dos defeitos da sociedade: provincianismo, vaidade, futilidade e oportunismo (repare-se como louva Carlos da Maia com o intuito de assumir uma posição mais preponderante na sociedade.
  • Carlos da Maia : O episódio proporciona-lhe o primeiro contacto com a sociedade, mantendo, durante o evento, uma posição relativamente discreta.
  • Craft : Representante da cultura artística e britânica, Craft tem uma participação pouco relevante neste episódio.
Temas discutidos durante o jantar :

  • Literatura;
  • Finanças;
  •  A história política
Fim do jantar - resolução da disputa

  • Ega e Alencar insultam-se mutuamente;
  • fazem uso de uma linguagem escabrosa e ofensiva;
  • envolvem-se numa zaragata que quase termina numa sessão de pugilato;
  • acabam por fazer as «pazes à portuguesa»: reconciliação e mostras de arrependimento, com abraços e protestos de amizade;
  • ou seja, esgotados os argumentos, passa-se à pessoalização das questões (= Questão Coimbrã, após as primeiras intervenções críticas; o desafio para um duelo entre Antero de Quental e Ramalho Ortigão).

Conclusões - o modo de ser português


     1. A falta de personalidade:
  • Alencar muda de opinião quando Cohen assim o pretende;
  • Ega muda também de opinião quando Cohen o pretende;
  • Dâmaso, cuja divisa é «Sou forte», aponta o caminho covarde da fuga.
     2. A disputa Ultrarromantismo / Naturalismo, reflexo da Questão Coimbrã.

     3. A falta de coragem / a covardia domina a sociedade, «... desde el-rei nosso senhor até aos cretinos de secretaria!...».

     4. A falta de cultura e civismo domina as classes mais destacadas, com exceção de Carlos e de Craft.

     5. O exército:

  • em caso de invasão, teriam de se alugar os generais para defesa da pátria;
  • a falta de disciplina dos soldados, não obstante serem «teso(s)»;
  • a fraqueza física e moral («Um regimento, depois de dois dias de marcha, dava entrada em massa no hospital!»; o episódio do marujo sueco).


http://www.youtube.com/watch?v=MtpMSDxgZYY

Cesário Verde

  Vida breve teve Cesário Verde. Nasceu em Lisboa em 25 de Fevereiro de 1855, morreu em Lisboa a 19 de Julho de 1886. Tinha 31 anos, idade absurda para morrer com uma tuberculose, dia 19 de Julho de 1886.

   Considerado um grandioso poeta português, matriculou-se no curso de Letras da Universidade de Lisboa, mas acabou por desistis, optando por trabalhar para a loja de ferragens que seu pai tinha na Rua dos Bacalhoeiros.     
  
   No entanto, deixou-se levar pela sua paixão à poesia e continuou a escrever poemas, tais como: "Num Bairro Moderno" (1877), "Em Petiz" (1878), "O Sentimento dum Ocidental" (1880), publicado no Diário de Notícias, no Diário da Tarde, no Ocidente, entre outros. 

A sua obra incide sobre a dicotomia campo / cidade, pois faz várias alusões às condições de vida do povo, dos burgueses, dos "bons trabalhadores. Remete-nos ainda para a vida no campo, a beleza da natureza e a beleza da mulher que é bastante realçada ao logo da sua obra.

O sarau da trindade

Objectivos deste episódio : 

  • Ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;
  • Apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;
  • Criticar o Ultrarromantismo que encharcava o público;
  • Reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família real;
  • Proporcionar um contraste entre um clima de festa e um clima de tragédia.

Ambiente

Espaço físico: Teatro da Trindade.

Espaço social: alta sociedade lisboeta analisada através de tipos sociais.

Caracterização da sociedade: inculta, estática e superficial, deformada pelos excessos e lugares comuns do Ultrarromantismo.


Oradores

Rufino:  

  • "vozeirão túmido, garganteado, provinciano, de vogais arrastadas em canto" - tom altissonante;
  • temas da sua alocução: a caridade, o progresso, a fé, Deus, a sua aldeia, a imagem do "Anjo da Esmola";
  • revela falta de originalidade:


- recorre a lugares comuns e a imagens de origem duvidosa (a imagem do «Anjo da Esmola», que estendera as suas asas benfazejas sibre os deserdados das inundações destruidoras das belas aldeias onde antes o rouxinol trinava);

 - faz uso de chavões retóricos e lirismos banais em torno da caridade e da fé;
a sua retórica é oca e balofa;

é adulador (volta-se constantemente para a zona das cadeiras reais, considera que a salvação reside no trono de Portugal: "... vir aquele pulha pôr-se ali a lamber os pés à família real...");

    Alencar : poeta ultrarromântico

  • esguio, sombrio e pensativo;
  • olhar encovado e lento;
  • melancólico, solene e pomposo;
  • tema proposto: a democracia (romântica);

utiliza os habituais bordões / chavões líricos ultrarromânticos: o luar, os vastos arvoredos, o amor, os segredos;
sustenta um excessivo lirismo carregado de conotações sociais:
- "... a severa ideia social da Poesia...";
- "... uma mulher macilentae, farrapos, chora, aconchegando ao seio magro o filho que pede pão...";
- "... estes humanitarismos poéticos.";
- "... daquele lirismo humanitário e sonoro.";
o seu discurso está desfasado da realidade: "A sala permanecia muda e desconfiada.";
ataca frontalmente.






Imprensa

Episódio da "Corneta do Diabo" e d' "A Tarde
Assunto:

Este episódio localiza-se no capítulo XV da obra, sendo que em relação à estrutura interna este episódio está no meio do desenvolvimento, numa altura em que Carlos vive calmamente o seu amor depois de ter instalado Maria Eduarda n’ "A Toca".
No jornal A Corneta do Diabo havia sido publicada uma carta escrita por Dâmaso Salcede que insultava Carlos e expunha, em termos degradantes, a sua relação com Maria Eduarda.
Palma Cavalão revela o nome do autor da carta e mostra aos dois amigos o original, escrito pela letra de Dâmaso Salcede, a troco de "cem mil réis".
A parcialidade do jornalismo da época surge quando Neves, director do jornal "A Tarde", aceita publicar a carta na qual Dâmaso se retracta, depois da sua recusa inicial por confundir Dâmaso Salcede com o seu amigo político Dâmaso Guedes.
A mesma parcialidade surge na redacção de uma notícia sobre o livro do poeta Craveiro, por pertencer "cá ao partido" e mais ainda quando Gonçalo, um dos redactores insulta o Conde de Gouvarinho, mas logo depois diz que “É necessário, homem! Razões de disciplina e de solidariedade partidária”.

Personagens intervenientes:

  • Palma Cavalão;
  • Neves;
  • Dâmaso Salcede;
  • Cruges;
  • Carlos;
  • Ega;


Critica:

O episódio dos jornais critica a decadência do jornalismo português que se deixa corromper, motivado por interesses económicos (A Corneta do Diabo) e demonstram uma preferência comprometedora de feições políticas.
Este episódio visa denunciar o baixo nível da imprensa lisboeta da época que se alimenta de factos da vida privada das pessoas, criticando a falta de ética dos jornalistas juntamente com a corrupção envolvida, sendo que se verifica ainda a vingança mesquinha e as amizades simuladas através das atitudes de Dâmaso e de Eusébio.

Corrida de Cavalos

https://www.youtube.com/watch?v=BDauv-eHY50

Educação dos Maias

No romance Os Maias, Eça de Queirós, no propósito de elaborar um retrato da sociedade, que se percebe no subtítulo Episódios da Vida Romântica, e dentro do espírito naturalista, procura encontrar razões para a crise social, política e cultural a partir da formação do indivíduo. Fator de humanização, de socialização e de autonomia, a educação produz ou reproduz modelos sociais e políticos que propõem um sistema de valores e princípios que são a base de uma sociedade.
O tema da educação é frequentemente tratado por Eça de Queirós e surge nos Maias como um dos principais fatores comportamentais e da mentalidade do Portugal romântico por oposição ao Portugal novo, voltado para o futuro. Não só deparamos com dois sistemas educativos opostos, como é frequente ver as conceções de educação afloradas ao longo da obra através de opiniões das personagens ou das mentalidades e cultura que revelam. 
Pedro da Maia e Eusebiozinho protagonizam a educação tradicionalista e conservadora, enquanto Carlos recebe a educação inglesa. A incapacidade para enfrentar as contrariedades ou a capacidade para se tornar interveniente na sociedade são as consequências imediatas dos processos educativos opostos.


  • A educação tradicionalista e conservadora caracteriza-se pelo recurso à memorização; ao primado da cartilha apenas com os saberes e os valores aí insertos; à "moral do catecismo" e da devoção religiosa com a conceção punitiva do pecado; ao estudo do latim como língua morta; à fuga ao ar livre e ao receio do contacto com a Natureza

  • A educação inglesa caracteriza-se pelo desenvolvimento da inteligência graças ao conhecimento experimental; pelo desprezo da cartilha, embora com a defesa do "amor da virtude" e "da honra" como convém a "um cavalheiro" e a "um homem de bem"; pela ginástica e pela vida ao ar livre; pelo contacto direto com a Natureza, pelo gosto das línguas vivas.

  • A educação tradicionalista e conservadora desvalorizou a criatividade e o juízo crítico, deformou a vontade própria, arrastou os indivíduos para a decadência física e moral. Em Pedro da Maia, por exemplo, levou-o a uma devoção histérica pela mãe e tornou-o incapaz de encontrar uma solução para a sua vida, quando Maria Monforte o abandonou; em relação à personagem Eusebiozinho, tornou-o "molengão e tristonho", arrastou-o para uma vida de corrupção, para um casamento infeliz e para a debilidade física. 


  • A educação inglesa procurou "criar a saúde, a força e os seus hábitos", fortalecendo o corpo e o espírito. Graças a ela, Carlos da Maia adquiriu valores do trabalho e do conhecimento experimental que o levaram a abraçar um curso de medicina e a projetos de investigação, de empenhamento na vida literária, cultural e cívica.

Linguagem

https://www.youtube.com/watch?v=Fu7nTvrkc8M


A prosa portuguesa tem uma história com etapas bem marcadas. António Vieira lançou as suas traves mestras, Herculano e Camilo enriqueceram-na, Garrett e Eça modernizaram-na. A prosa de Eça reflecte a sua maneira de pensar e torna-se um instrumento dúctil e subtil para exprimir o seu modo pessoal de ver o mundo e a vida. Ele próprio considerava a literatura como a arte de pintar a realidade, mas "levemente esbatida na névoa dourada e trémula da fantasia, satisfazendo a necessidade de idealismo que todos temos nativamente e ao mesmo tempo a seca curiosidade do real, que nos deram as nossas educações positivas..." (Eça de Queirós, Notas Contemporâneas).
Eça não teve a frondosa riqueza vocabular de um Camilo, mas soube explorar, a partir de um vocabulário simples, a força evocativa das palavras por meio das mais variadas relações combinatórias e sentidos conotativos. O estilo de Eça é magistralmente estudado por Ernesto Guerra na sua obra Linguagem e Estilo de Eça de Queirós. Vejamos, então alguns dos processos pelos quais Eça conseguiu essa força evocativa, esse verdadeiro magnetismo das palavras.

Elementos Simbólicos

1. O Ramalhete


  • Na opinião de Vilaça, as paredes do Ramalhete sempre foram fatais aos Maias.



  • Está ligado à decadência nacional. Aliás, o ramo de girassóis aponta para uma atitude contemplativa de submissão, associada à incapacidade de ultrapassar esse estado rebaixado. Isto reflete não só a presença avassaladora da paixão na família Maia, mas também o estado do próprio país.



  • O jardim do Ramalhete também é rico em simbolismo. Sobressaem três símbolos: o cipreste, o cedro e a Vénus Citereia.



  • O cipreste e o cedro, unidos de forma incorruptível pelas suas raízes que a tudo resistem, simbolizam o Amor Absoluto.



  • A estátua da Vénus Citereia liga-se à sedução e à volúpia da deusa do amor. Passa por três fases: na altura da morte de Pedro, enegrecia a um canto; após a remodelação do Ramalhete, reapareceu em todo o seu esplendor, como símbolo de vida feliz, não deixando, no entanto, de estar ligada à desgraça futura, enquanto símbolo feminino desestabilizador; na terceira e última fase, aparece coberta de ferrugem verde e humidade, assumindo uma simbologia negativa de destruição.



  • Importa referir também a cascata: a água é símbolo de regeneração e purificação, e o seu fluir representa a passagem inexorável do tempo, associada à ideia de Destino.


O Ramalhete – 10 anos depois


  • Passados dez anos, a casa é um espaço frio, decadente, “amortalhado” sob lençóis, uma vez que Carlos levou para Paris parte do recheio do Ramalhete.



  • No jardim, a Vénus enferrujada e a cascata sem água sublinham a decadência.
  • O Ramalhete acompanha e simboliza a glória e a decadência dos Maias. 



2. A Toca (casa de Maria Eduarda nos Olivais)



  • Uma toca é um covil de um animal, é onde este se esconde das ameaças exteriores. Assim, o nome da casa aponta para uma amor marginal, que se torna animalesco por ser incestuoso, desafiando as leis humanas, primeiro de forma inconsciente, depois bestialmente consumado.



  • Na Toca multiplicam-se os elementos trágicos, sobretudo no quarto de Maria Eduarda: a tapeçaria com os amores de Vénus e Marte; a pintura da cabeça degolada; a coruja empalhada.


3. Santa Olávia (o solar da família Maia, em Resende, na margem esquerda do Douro)


  • Simboliza a vida e a regeneração dos dois varões da família.



  •  É um espaço natural, conotado positivamente.



  • Opõe-se ao espaço citadino degradado – Lisboa – local da degeneração da família.


4. Sintra


  •  É um local idílico e representa a beleza paradisíaca.



  • O seu aspeto edénico, será, no entanto, corrompido pela intrusão dos vícios decadentes, representados pelas figuras de Eusebiozinho e Palma Cavalão, acompanhados de prostitutas espanholas.



  • Também Dâmaso Salcede transporta o seu “chique a valer” para Sintra, tornando este Éden natural uma continuação do espaço lisboeta.


5. Lisboa



  • Representa Portugal inteiro: “O país está todo entre a Arcada e S. Bento!” (cap. VI).



  • Símbolo da decadência nacional, Lisboa é caracterizada pela degradação moral e pela ociosidade crónica.



  • No último capítulo da obra, destaca-se a estátua de Camões, que assiste impotente à decadência do país.



  • O país, estagnado e politicamente amorfo, é incapaz de se regenerar, rendendo-se à mediocridade intelectual e à adoção de modas estrangeiras, renunciando a qualquer sentido de identidade própria.



Narrador

Aqui ficam algumas ideias sobre o narrador:



  • O narrador é heterodiegético, ou seja, não é uma personagem da história.



  • Assume, geralmente, uma atitude de observador.



  • Marcas linguísticas: verbos na 3ª pessoa; pronomes e determinantes na 3ª pessoa; discurso indireto livre (nesta obra).



  •  O narrador omnisciente sabe tudo sobre as personagens: o seu passado, presente e futuro, bem como os seus sentimentos e desejos mais íntimos. É como um deus que tudo viu e tudo sabe. Verificamos que o narrador do romance conhece todo o passado dos Maias, sabendo mais sobre eles do que as próprias personagens. Isto permite-lhe arquitetar o romance, jogando com várias técnicas narrativas ao nível do tempo do discurso (por exemplo, a analepse).


Tempo

Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado logicamente, alargado ou resumido.
Na obra, o discurso inicia-se no Outono de 1875, data em que Carlos, concluída a sua viagem de um ano pela Europa, após a formatura, veio, com o avô, instalar-se definitivamente em Lisboa.
Pelo processo de analepse, o narrador vai, até parte do capítulo IV, referir-se aos antepassados do protagonista (juventude e exílio de Afonso da Maia (avô), educação, casamento e suicídio de Pedro (pai), e à educação de Carlos da Maia e sua formatura em Coimbra) para recuperar o presente da história que havia referido nas primeiras linhas do livro. Esta primeira parte pode considerar-se uma novela introdutória que dura quase 60 anos. Esta analepse ocupa apenas 90 páginas, apresentadas por meio de resumos e elipses.
Assim, como vemos, o tempo histórico é muito mais longo do que o tempo do discurso.
Do Outono de 1875 a Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo histórico (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja idêntico ao tempo do discurso - cerca de 600 páginas - para tal Eça serve-se muitas vezes da cena dialogada.
O último capítulo é uma elipse (salto no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com Carlos em Lisboa.

Espaço

Nesta obra, as características do espaço físico são muito importantes uma vez que nos levam a concluir o modo de vida e as características das próprias personagens.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Caracterização das personagens

Afonso da Maia 
 


  • Caracterização Física:
Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz bicudo e a pele corada. O cabelo era branco, muito curto e a barba branca e comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado das idas heróicas, um D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque".


  • Caracterização Psicológica
Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus netos. É o símbolo do velho Portugal que contrasta com o novo Portugal – o da Regeneração – cheio de defeitos. É os sonho de um Portugal impossível por falta de homens capazes.


Pedro Maia 

  • Caracterização Física
Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física.

  • Caracterização Psicológica

Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho".
O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua semelhança psicológica com estes.
Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrograda. O seu único sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe.
Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reacção do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem


Carlos da Maia 


  • Caracterização Física

Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Com diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença".



  • Caracterização Psicológica

Carlos era culto, bem educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério).


Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos e também devido a aspectos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, o futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a questão Coimbrã e as Conferências do Casino e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.





Maria Eduarda


Maria Eduarda era uma bela mulher: alta, loira, bem feita, sensual mas delicada, "com um passo soberano de deusa".







Maria Monforte


  • Caracterização Física



É extremamente bela e sensual. Tinha os cabelos loiros, "a testa curta e clássica, o colo ebúrneo".




  • Caracterização Psicológica

É vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu carácter pobre, excêntrico e excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira porque o seu pai levara, noutros tempos, cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova Orleans. Apaixonou-se por Pedro e casou com ele. Desse casamento nasceram dois filhos.
Mais tarde foge com o napolitano, Tancredo, levando consigo a filha, Maria Eduarda, e abandonando o marido e o filho - Carlos Eduardo.
Leviana e imoral, é, em parte, a culpada de todas as desgraças da família Maia. Fê-lo por amor, não por maldade. Morto Tancredo, num duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na miséria.
Deixa um cofre a um conhecido português - o democrata Guimarães - com documentos que poderiam identificar a filha a quem nunca revelou as origens.

Personagens dos Maias

Personagens Centrais:

Afonso da Maia ; Pedro da Maia ; Carlos da Maia ; Maria Eduarda ; Maria Monforte

Personagens Planas e/ou Tipo:

João da Ega ; Eusébiozinho ;  Alencar ; Conde de Gouvarinho ; Sousa Neto

Palma Cavalão ; Dâmaso Salcede ; Steinbroken ; Cohen ; Craft

Condessa de Gouvarinho ; Cruges ; Tancredo ; Sr. Guimarães ; Rufin

Ação Principal e Secundária dos Maias

Acção Principal -  Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda que terminam com a desagregação da família – morte de Afonso da Maia e separação de Carlos e Maria Eduarda.Carlos é protagonista da intriga principal. A acção principal inicia-se quando Carlos vê Maria Eduarda acompanhada por Castro Gomes.
Acção Secundária - A acção secundária envolve substancialmente Pedro da Maia, Maria Monforte, Afonso da Maia e Trancedo. Pedro, após um ano da morte da mãe, cai em amores pela bela Maria Monforte. Namoram- se e casam-se desautorizando Afonso da Maia, na altura opositor ao casamento, chamando Maria de "negreira" e questionando as suas origens e valores morais. 

Situação satíricas que criticam a sociedade actualmente

https://www.youtube.com/watch?v=67-R_MIFq60

quarta-feira, 19 de março de 2014

Título e Subtítulo e o seu respectivo significado

Se o título e o subtítulo já fazem parte da obra deve articular-se com ela e contribuir para um efeito global. Trata-se de dois plurais “Os Maias”e “Episódios da vida romântica”. Representam duas esferas, dois espaços mentais. Já se disse que nelas se conjugam dois climas muito diferentes, o da tragédia e o da comédia lisboeta. Conseguiu Eça de facto conciliares truturalmente essas duas grandes isotopias, por outras palavras o transcendente e o terreno, o insólito e o quotidiano, o romeno e o trivial Eça de Queirós quis contar a história de uma família, “ Os Maias” através de várias gerações. 

O subtítulo indica uma segunda intenção, descrever certo estilo de vida, o romântico, através de episódios, mas admite duas hipóteses, que tais episódios pertencem, à história dos Maias, ou que decorram marginalmente numa sociedade em que a família Maia seinsere, Justifica-se o título “ Os Maias”, na medida em que Carlos, o herói,mais precisamente, o amante e herói aparece integrado numa família.Também se justifica o subtítulo “ Episódios de vida romântica”, porque a personagem oferece-nos múltiplos caso, cenas, atitudes, considera dos típicos dos Romantismos que continua vivaz em 1875/1876. O que não ficou incluído no título nem no subtítulo foi o elemento de coesão queres ide no facto de tanto “ Os Maias” como esses episódios representarem uma personagem coberta, Portugal, a grande personagem latente na obra de Eça, sua obsidente preocupação.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Realismo



Na literatura :


O realismo na Literatura manifesta-se na prosa. A poesia da época vive o parnasianismo. O romance-social, psicológico e de tese - é a principal forma de expressão. Deixa de ser apenas distração e torna-se veículo de crítica a instituições, como a Igreja Católica, e à hipocrisia burguesa. A escravidão, os preconceitos raciais e a sexualidade são os principais temas, tratados com linguagem clara e direta.


Na pintura :


A pintura do Realismo começou por manifestar-se no tratamento da paisagem, que se despiu da exaltação e personificação românticas para se ater, simplesmente, na reprodução desapaixonada e neutra, do que se oferece à vista do pintor. Passou, depois, aos temas do quotidiano, que tratou de forma simples e crua.


Na música :

Enquanto a música nos períodos anteriores podia ser identificada por um único estilo, comum a todos os compositores da época, na segunda metade do século XIX ela mostra-se como uma mistura de muitas tendências. A maioria das tendências compartilham uma coisa comum, uma reação contra o estilo romântico.

Geração de 70/ "Conferências Democráticas"/ Vencidos da vida do Casino Lisbonense


As Conferências do Casino foram mais  uma forma de  manifesto de geração, sobre a sociedade portuguesa e uma forma de debater os grandes temas de época.
Estas reuniões tiveram lugar no Casino Lisbonense, no ano de 1871 pelo grupo do Cenáculo, formado, mais ou menos, pelos ex-estudantes de Coimbra que constituem a Geração de 70.

Foi, então, que o grupo de jovens escritores e intelectuais, reunidos em Lisboa após concluírem os seus estudos em Coimbra, tendo sido Antero o grande impulsionador desde os tempos universitários, incentivando os outros membros do grupo em Proudhon.
A ideia destas palestras surgiu numa reunião  do Cenáculo. Antero e Batalha Reis alugaram a sala do Casino Lisbonense, situado no Largo da Abegoaria, actualmente de Rafael Bordalo Pinheiro.

Questão Coimbrã

A chegada dos novos meios de transportes ferroviários, que traziam todos os dias novidades do centro da Europa, influenciou o aparecimento de novas ideologias. Este fenómeno fez despertar Antero e o seu grupo para novas formas de escrever, separando a nova geração dos ultra-românticos.
Essa diferença assentou-se quando o Grande Castilho criticou os poemas de Antero e de Teófilo de Braga, em que ironizava e afirmava que não tinham valor nenhum. Antero, com irreverência e excesso, decide contestar o velho mestre, fez publicar uma carta-aberta  a Castilho "Bom-senso e Bom-gosto", onde, exaltadamente, se insurge contra o desdém de Castilho relativamente à nova geração de poetas. E desencadeou assim  uma polémica literária, que se prolongaria pelo ano de 1866 e levaria mesmo a um duelo à espada entre Antero e Ramalho Ortigão.
A famosa Questão Literária ou Questão de Coimbra, que durante mais de seis meses agitou o nosso pequeno mundo literário, foi o ponto de partida da actual evolução da literatura portuguesa.





Eça de Queirós (biografia e bibliografia)

Biografia : 
Caricatura de Eça de Queirós


José Maria Eça de Queirós nasceu na Póvoa do Varzim em 25 de Novembro de 1845. Curiosamente (e escandalosamente para aquela época), foi registado como filho de José Maria d`Almeida de Teixeira de Queirós e de mãe ilegítima.

O seu nascimento foi fruto de uma relação ilegítima entre D. Carolina Augusta Pereira de Eça e do então delegado da comarca José Maria d`Almeida de Teixeira de Queirós. D. Carolina Augusta fugiu de casa para que a sua criança nascesse afastada do escândalo da ilegitimidade.

O pequeno Eça foi levado para casa de sua madrinha, em Vila do Conde, onde permaneceu até aos quatro anos. Em 1849, os pais do escritor legitimaram a sua situação, contraindo matrimónio. Eça foi então levado para casa dos seus avós paternos, em Aveiro, onde permaneceu até aos dez anos. Só então se juntou aos seus pais, vivendo com eles no Porto, onde efectuou os seus estudos secundários.

Em 1861, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Aqui, juntou-se ao famoso grupo académico da Escola de Coimbra que, em 1865, se insurgiu contra o grupo de escritores de Lisboa, a apelidada Escola do Elogio Mútuo.

Esta revolta dos estudantes de Coimbra é considerada como a semente do realismo em Portugal. No entanto, esta foi encabeçada por Antero de Quental e Teófilo Braga contra António Feliciano de Castilho, pelo que, na Questão Coimbrã, Eça foi apenas um mero observador.
Terminou o curso em 1866 e fixou-se em Lisboa, exercendo simultaneamente advocacia e jornalismo. Dirigiu o Distrito de Évora e participou na Gazeta de Portugal com folhetins dominicais, que seriam, mais tarde, editados em volumes com o título Prosas Bárbaras.

Em 1869 decidiu assistir à inauguração do Canal do Suez. Viajou pela Palestina e daí recolheu variada informação que usou na sua criação literária, nomeadamente nas obras O Egipto e A Relíquia.

Por influência o seu companheiro e amigo universitário, Antero de Quental, entregou-se ao estudo de Proudhon e aderiu ao grupo do Cenáculo. Em 1870, tomou parte activa nas Conferências do Casino (marca definitiva do início do período realista em Portugal) e iniciou, juntamente com Ramalho Ortigão, a publicação dos folhetins As Farpas.

Decidiu entrar para o Serviço Diplomático e foi Administrador do Concelho em Leiria. Foi na cidade do Lis que elaborou O Crime do Padre Amaro. Em 1873 é nomeado Cônsul em Havana, Cuba. Dois anos mais tarde, foi transferido para Inglaterra, onde residiu até 1878. Foi em terras britânicas que iniciou a escrita d` O Primo Basílio e começou a arquitectar Os Maias, O Mandarim e A Relíquia. De Bristol e Newcastle, onde residia, enviou frequentemente correspondência para jornais portugueses e brasileiros. No entanto, a sua longa estadia em Inglaterra encheu-o de melancolia.

Em 1886, casou com D. Maria Emília de Castro, uma senhora fidalga irmã do Conde de Resende. O seu casamento é também sui generis, pois casou aos 40 com uma senhora de 29.

Em 1888 foi com alegria transferido para o consulado de Paris. Publica Os Maias e chega a publicar na imprensa Correspondência de Fradique Mendes e A Ilustre Casa de Ramires.

Nos últimos anos, escreveu para a imprensa periódica, fundando e dirigindo a Revista de Portugal. Sempre que vinha a Portugal, reunia em jantares com o grupo dos Vencidos da Vida, os acérrimos defensores do Realismo que sentiram falhar em todos os seus propósitos.

Morreu em Paris em 1900.

Bibliografia :

  • O Mistério da Estrada de Sintra (1870)
  • O Crime do Padre Amaro (1875); versão definitiva em 1880
  • O Primo Basílio (1878)
  • O Mandarim (1880)
  • A Relíquia (1887)
  • Os Maias (1888)
  • Uma Campanha Alegre (1890-91)
  • A Ilustre Casa de Ramires (1900)
  • A Correspondência de Fradique Mendes (1900)
  • A Cidade e as Serras (1901)
  • Contos (1902)
  • Prosas Bárbaras (1903)
  • Cartas de Inglaterra (1905)
  • Ecos de Paris (1905)
  • Cartas Familiares (1907)
  • Bilhetes de Paris (1907)
  • Notas Contemporâneas (1909)
  • Últimas Páginas (1912)
  • A Capital (1925)
  • O Conde de Abranhos (1925)
  • Alves e C.ª (1925)
  • Correspondência (1925)
  • O Egipto (1926)
  • Cartas Inéditas de Fradique Mendes (1929)
  • Páginas Esquecidas (1929)
  • Eça de Queirós entre os seus - Cartas íntimas (1949)
  • Folhas Soltas (1966)
  • A Tragédia da Rua das Flores (1980)
  • Dicionário de Milagres
  • Lendas de Santos

EDIÇÕES CRÍTICAS:
  • A Capital (1992)
  • O Mandarim (1993)
  • Alves e C.ª (1994)
  • Textos de Imprensa VI (1995)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

D. Sebastião

Foi rei da Segunda Dinastia e o décimo sexto Rei de Portugal, foi filho de Dom João de Portugal e de Dona Joana de Áustria, filha de Carlos V, nasceu em Lisboa a 20 de Janeiro de 1554 e morreu em Alcácer Quibir a 04 de Agosto de 1578 e está sepultado em Lisboa no Mosteiro dos Jerónimo. e não teve descendentes.

Começou a governar em 1557 e terminou em 1578 Quando Dom João III morreu, em 1557, já todos os seus nove filhos já haviam falecido.
Como herdeiro direto restava apenas um neto, Dom Sebastião, que tinha nessa altura apenas três anos de idade. Foi nomeado um regente até que o jovem rei tivesse idade para governar. Quando fez quatorze anos, Dom Sebastião tomou conta do governo. Sendo, além de jovem, muito religioso e influenciável, o seu modelo eram os antigos heróis e o seu sonho as grandes batalhas de combate aos infiéis. Daí que o seu principal projeto fosse conquistar Marrocos aos muçulmanos.

Não era, aliás, o único a defender esta ideia. Desde que a Índia começara a dar mais prejuízos que lucros, muita gente estava de acordo em que era preferível conquistar o Norte de África – zona rica em cereais e comércio – do que continuar a manter com grandes sacrifícios o Império do Oriente.

Com o que quase ninguém esteve de acordo – sobretudo as pessoas mais prudentes – foi com a maneira como D. Sebastião preparou e dirigiu a sua expedição ao Norte de África. Em 1578, tinha então vinte e quatro anos, partiu para Marrocos com um exército de dezassete mil homens, dos quais cerca de um terço eram mercenários estrangeiros.

Embora os militares mais experimentados na guerra o aconselhassem a não se afastar da costa de onde lhe poderia vir auxílio dos navios portugueses, o rei preferiu avançar para o interior com as suas tropas. Encontrou o exército muçulmano em Alcácer Quibir e aí se travou a célebre e infeliz batalha em que foram mortos ou feitos prisioneiros praticamente todos os portugueses que nela participaram.

O rei também morreu na batalha, mas nenhum dos portugueses que regressaram disse que viu o seu corpo. A chegada da notícia desse desastre a Lisboa provocou cenas de perturbação e dor indescritíveis.

Das famílias nobres, poucas eram as que não tinham perdido um ou mais dos seus filhos e parentes. Outros tinham ficado cativos em Marrocos e iria ser preciso pagar grandes importâncias para os libertar.

Mas, sobretudo, os portugueses choraram o seu rei que tinha morrido solteiro e sem deixar descendentes. Dois anos depois, Portugal perdeu a sua independência política, visto que Filipe II rei de Espanha e neto do rei Dom Manuel I, subiu ao trono de Portugal.

Durante os anos que se seguiram, o povo acreditava que Dom Sebastião não tinha morrido na batalha e iria regressar a Portugal, numa noite de nevoeiro. Então, reclamaria para si o trono e o reino ganharia de novo a sua independência. Esta crença popular ficou
conhecida na história com o nome de “Sebastianismo”.