sexta-feira, 28 de março de 2014

Educação dos Maias

No romance Os Maias, Eça de Queirós, no propósito de elaborar um retrato da sociedade, que se percebe no subtítulo Episódios da Vida Romântica, e dentro do espírito naturalista, procura encontrar razões para a crise social, política e cultural a partir da formação do indivíduo. Fator de humanização, de socialização e de autonomia, a educação produz ou reproduz modelos sociais e políticos que propõem um sistema de valores e princípios que são a base de uma sociedade.
O tema da educação é frequentemente tratado por Eça de Queirós e surge nos Maias como um dos principais fatores comportamentais e da mentalidade do Portugal romântico por oposição ao Portugal novo, voltado para o futuro. Não só deparamos com dois sistemas educativos opostos, como é frequente ver as conceções de educação afloradas ao longo da obra através de opiniões das personagens ou das mentalidades e cultura que revelam. 
Pedro da Maia e Eusebiozinho protagonizam a educação tradicionalista e conservadora, enquanto Carlos recebe a educação inglesa. A incapacidade para enfrentar as contrariedades ou a capacidade para se tornar interveniente na sociedade são as consequências imediatas dos processos educativos opostos.


  • A educação tradicionalista e conservadora caracteriza-se pelo recurso à memorização; ao primado da cartilha apenas com os saberes e os valores aí insertos; à "moral do catecismo" e da devoção religiosa com a conceção punitiva do pecado; ao estudo do latim como língua morta; à fuga ao ar livre e ao receio do contacto com a Natureza

  • A educação inglesa caracteriza-se pelo desenvolvimento da inteligência graças ao conhecimento experimental; pelo desprezo da cartilha, embora com a defesa do "amor da virtude" e "da honra" como convém a "um cavalheiro" e a "um homem de bem"; pela ginástica e pela vida ao ar livre; pelo contacto direto com a Natureza, pelo gosto das línguas vivas.

  • A educação tradicionalista e conservadora desvalorizou a criatividade e o juízo crítico, deformou a vontade própria, arrastou os indivíduos para a decadência física e moral. Em Pedro da Maia, por exemplo, levou-o a uma devoção histérica pela mãe e tornou-o incapaz de encontrar uma solução para a sua vida, quando Maria Monforte o abandonou; em relação à personagem Eusebiozinho, tornou-o "molengão e tristonho", arrastou-o para uma vida de corrupção, para um casamento infeliz e para a debilidade física. 


  • A educação inglesa procurou "criar a saúde, a força e os seus hábitos", fortalecendo o corpo e o espírito. Graças a ela, Carlos da Maia adquiriu valores do trabalho e do conhecimento experimental que o levaram a abraçar um curso de medicina e a projetos de investigação, de empenhamento na vida literária, cultural e cívica.

Sem comentários:

Enviar um comentário