- Na opinião de Vilaça, as paredes do Ramalhete sempre foram fatais aos Maias.
- Está ligado à decadência nacional. Aliás, o ramo de girassóis aponta para uma atitude contemplativa de submissão, associada à incapacidade de ultrapassar esse estado rebaixado. Isto reflete não só a presença avassaladora da paixão na família Maia, mas também o estado do próprio país.
- O jardim do Ramalhete também é rico em simbolismo. Sobressaem três símbolos: o cipreste, o cedro e a Vénus Citereia.
- O cipreste e o cedro, unidos de forma incorruptível pelas suas raízes que a tudo resistem, simbolizam o Amor Absoluto.
- A estátua da Vénus Citereia liga-se à sedução e à volúpia da deusa do amor. Passa por três fases: na altura da morte de Pedro, enegrecia a um canto; após a remodelação do Ramalhete, reapareceu em todo o seu esplendor, como símbolo de vida feliz, não deixando, no entanto, de estar ligada à desgraça futura, enquanto símbolo feminino desestabilizador; na terceira e última fase, aparece coberta de ferrugem verde e humidade, assumindo uma simbologia negativa de destruição.
- Importa referir também a cascata: a água é símbolo de regeneração e purificação, e o seu fluir representa a passagem inexorável do tempo, associada à ideia de Destino.
O Ramalhete – 10 anos depois
- Passados dez anos, a casa é um espaço frio, decadente, “amortalhado” sob lençóis, uma vez que Carlos levou para Paris parte do recheio do Ramalhete.
- No jardim, a Vénus enferrujada e a cascata sem água sublinham a decadência.
- O Ramalhete acompanha e simboliza a glória e a decadência dos Maias.
2. A Toca (casa de Maria Eduarda nos Olivais)
- Uma toca é um covil de um animal, é onde este se esconde das ameaças exteriores. Assim, o nome da casa aponta para uma amor marginal, que se torna animalesco por ser incestuoso, desafiando as leis humanas, primeiro de forma inconsciente, depois bestialmente consumado.
- Na Toca multiplicam-se os elementos trágicos, sobretudo no quarto de Maria Eduarda: a tapeçaria com os amores de Vénus e Marte; a pintura da cabeça degolada; a coruja empalhada.
3. Santa Olávia (o solar da família Maia, em Resende, na margem esquerda do Douro)
- Simboliza a vida e a regeneração dos dois varões da família.
- É um espaço natural, conotado positivamente.
- Opõe-se ao espaço citadino degradado – Lisboa – local da degeneração da família.
4. Sintra
- É um local idílico e representa a beleza paradisíaca.
- O seu aspeto edénico, será, no entanto, corrompido pela intrusão dos vícios decadentes, representados pelas figuras de Eusebiozinho e Palma Cavalão, acompanhados de prostitutas espanholas.
- Também Dâmaso Salcede transporta o seu “chique a valer” para Sintra, tornando este Éden natural uma continuação do espaço lisboeta.
5. Lisboa
- Representa Portugal inteiro: “O país está todo entre a Arcada e S. Bento!” (cap. VI).
- Símbolo da decadência nacional, Lisboa é caracterizada pela degradação moral e pela ociosidade crónica.
- No último capítulo da obra, destaca-se a estátua de Camões, que assiste impotente à decadência do país.
- O país, estagnado e politicamente amorfo, é incapaz de se regenerar, rendendo-se à mediocridade intelectual e à adoção de modas estrangeiras, renunciando a qualquer sentido de identidade própria.
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